terça-feira, 10 de março de 2015

E esse sumiço?

É só medo do abandono. De ficar sozinha. De não se encaixar na idealização de algum ser humano por aí.

É sentar no sofá (ou em uma mesa de bar, pode ser também) e beber a cerveja e contando para os amigos todos os seus casos de amor. E ouvir risadas. Por que seus casos de amor, no meio da roda de amigos tão bem sucedidos amorosamente, são que sempre dão errado.

Seus amores são os que sempre somem. Seja na mesma noite, no dia seguinte ou uma semana depois. Eles somem.

Não que isso seja importante na hora ou no mês. Mas sempre volta (naquela noite em que ninguém quer sair, tá chovendo e só existe uma garrafa de vinho na geladeira) para te fazer pensar: Sumiu por quê? Eu falei alguma coisa errada? Fiz alguma coisa errada?

Não que eu lembre. Não que eu saiba.


É um sentimento de vitória –que dura uma noite- que gera expectativas para o resto da semana.

sábado, 28 de fevereiro de 2015

Relógios e Bagagens.

Tic
Tac

É o barulho do relógio, imaginário, que todo mundo ao meu redor colocou na minha cabeça.

Tic.
Tac.

Eu não quero mais namorar, não quero mais casualidade, não quero mais ter que passar por todas as fases -oi. tudo bem? curte livros?- até chegar ao 'eu te amo'. Eu quero é ser encontrada e sentir, finalmente, o toque de outra alma.
Alma, não mão.

Quero não ter que ter medo da bagagem -ex, erros, filhos, histórias, amigos sem limite- que vem por aí e vão me sufocar até que eu desista.



terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Só tem areia.


- Quando começou?- o enfermeiro assustado, com os olhos castanhos arregalados, me perguntou. – Tem muito tempo?

- Começou o que?- eu nem estava doente. Só estava tirando sangue por rotina e precaução mesmo.

- A areia no sangue.
Senti vontade de rir. De gargalhar. Só de me imaginar com areia no sangue, já pude me ver vestida com uma capa bege e um uniforme brega o suficiente para ser considerada heroína do Rio de Janeiro. Mulher-Areia. Areia Girl. Mas eu me controlei, balancei a cabeça para afastar essa imagem medonha e tentei responder com calma.

- Não tenho areia no sangue, moço. Eu tenho sangue mesmo. – o enfermeiro apontou com a cabeça para a seringa que estava ao lado do meu braço e eu dirigi meu olhar até a mesma. Ela estava cheia sim, mas cheia de areia. E não era areia de praia não, parecia areia de obra inacabada. Areia suja e que ninguém nunca iria usar. Meu ar falhou por alguns segundos e tenho certeza de que o enfermeiro sabia o que eu estava sentindo. – Que tipo de brincadeira é essa?

- Dona, eu não estou brincando. – ele tinha bolsas enormes de olheiras debaixo dos olhos e imaginei que ele estive trabalhando desde cedo mesmo. E o pior: Não estivesse afim de brincar com paciente. 

– A senhora nunca sentiu nada diferente?

- Eu nunca senti nada.

‘Eu nunca senti nada.’ Repeti mentalmente enquanto analisava a seringa cheia de areia. Não sentia nada mesmo e havia bastante tempo. Três anos? Talvez mais. Tinha secado por dentro, mas por fora continuava a mesma. Ainda deixava uma lágrima escorrer antes de ir dormir, deixava o pensamento de ‘não quero estar sozinha.’ me invadir no meio da tarde, mas de alguma maneira sobrenatural me obriguei a ser mais forte que isso. Me obriguei a parar de sentir e aos poucos tudo foi fazendo sentido. Chorar, ter medo, tremer e querer me esconder já não faziam mais parte de mim.

Nem eu queria que esses sentimentos me dominassem para sempre.


- Talvez seja por isso que você não tenha sangue. Você não está sentindo nada.